quarta-feira, 1 de abril de 2015

Palácios no Deserto

"Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho." (Filipenses 1:21 ARC)

Não é difícil perceber que Paulo de fato pensava assim. Ao ler as páginas da Bíblia que narram seus atos é gritante a entrega feita pelo apóstolo, de sua própria vida, sem reservas, à Cristo. Bastante explícito também é o fato de que essa entrega não se deu através de uma reclusão em busca de um encontro com o transcendente, mas de uma entrega ao serviço ao próximo, e serviço esse na forma de pregação do Evangelho de Cristo. 
Pelo leitura das epístolas apostólicas percebemos também que aceitar a Cristo, de maneira geral, representava abrir mão da vida, até então usufruída, em troca de uma esperança. Isto nem sempre é percebido numa leitura superficial do Novo Testamento devido a estarmos inseridos numa sociedade altamente influenciada pela cultura cristã, onde se tornar cristão é, para muitos, simplesmente, reconhecer sua existência. Os primeiros cristãos tinham que se tornar "novas criaturas", com uma nova esperança, nova não apenas para o convertido, mas recentemente trazida ao mundo. Tinham que se desprender de toda uma cultura legalista farisaica, ou politeísta greco-romana, para um monoteísmo de três pessoas que até hoje muitos não entendem. 
Diferentemente, hoje, por mais que ser cristão seja visto como algo retrógrado e ultrapassado, nossa busca não é por uma ruptura cultural, o que chamamos de transformação em geral é uma recuperação, o Evangelho tornou-se uma filosofia pela qual o cidadão pode se aprimorar e viver uma "vida plena", e a grande busca é por como se tornar um cidadão que contribui para o desenvolvimento da sociedade, ou ainda, como tornar a sociedade mais próxima do que entendemos como "Reino de Deus". Apesar de acreditar que esta contribuição faça parte do "ser sal", às vezes parece que buscamos criar uma sociedade onde seja confortável ser cristão para que não se precise viver da esperança. 
Formamos grandes jardins e nos sentamos para apreciar os frutos. Levantamos uma cobertura e não precisamos mais sair ao Sol. Construímos muitos quartos, afinal, devemos ser hospitaleiros. Erguemos um grande salão, onde o povo possa adorar com todo conforto. Levantamos palácios no meio do deserto para mostrar o quanto Nosso Deus é bom! Mas nos esquecemos de que o deserto não é nosso lar.